sábado, 10 de agosto de 2013


mais uma remontagem.... 
 

manta-intervalo





entre o jardim e a floresta, a grama, fora, e dentro. entre o agora, e as linhas de devir

a máquina de fugas criada por tatiana grinberg nos jardins de um casarão eclético, nas bordas da floresta da tijuca, faz deslizar temporalidades. movimenta rastros de corpos e outras intensidades, ativando enervações dentro/fora. a operação desloca progressivamente as coordenadas, retraçando pensamentos e percursos. leva a pensar as coisas em termos de tramas e não-tramas, por dentro e por fora da carne que recobre o mundo. [atravesso a manta, respiro, sinto seu calor, a grama me espeta. e posso voar pela floresta. vol d’oiseau. a grama, o cobertor de feltro, a floresta da tijuca, as ondas da estrada das canoas, da casa de niemeyer, o mar. já sinto certa tonteira, perturbações de labirinto, e que ressoam aqui bem alto, na curva do abdômem. percorro trajetos imaginários através da mata, seguindo novas linhas, planos, mapas. ao mesmo tempo, é como se fosse preciso focar tudo mais de perto, refinar o sismógrafo, pois há micropercepções envolvidas, em torno de gestos mínimos, e de outros, mais amplos]]. um gramado será suspenso, içado em direção à floresta. surpresas serão geradas aí – no campo da percepção, mas também no campo dos usos, dos costumes....  e apenas sei dizer que há, desde maio, grama brotando através dos poros de uma manta de feltro [manta daquelas que recobrem tantos corpos nas madrugadas geladas]. mas às vezes, tudo vem junto: os cortes na terra nua, as fendas, refendas, lâminas, estacas, os fios, a trama de metal. e mais os desenhos que fogem para a mata, que serão concretos, e até de certo modo duráveis…. traços se confundem com trajetos/projetos/processos. probjetos?

explorando a membrana de contato com o mundo, aí nesse mergulho nas profundezas da imanência, a proposição testa um território gerado pela expansão do gramado-manta, atravessando de novas linhas e afetos a vivência de um jardim, movendo espaços, prometendo enfim transformar a configuração de cada um dos encontros. [imagino como uma tarefa de puro deleite investigar o uso, os possíveis usos dessa coberta que, ao propor um outro avesso, transforma o solo, perturbando todo o esforço de regularidade do platô ajardinado, tentativa de ordenação de um lugar que para sempre estará em mutação, em tensão dinâmica com a mata atlântica....  passar pelo platô, pelas árvores mestras da operação, descobrir a trama de metal, estar aberta ao jogo de forças que irá atravessar o corpo/espaço. paralelas/infinito
depois, sentar no divã de azulejos em frente à fonte rococó..... dali, daquela sombra fresca, admirar os desenhos em fuga pela floresta

a intervenção no museu do açude 'escolhe' o momento transitório desse jardim, entrelaçando estratos de memória, reinventando suas fronteiras com a floresta. novas tramas, linhas, arranjos surgem aí, tornando mais complexa a conversa nesse intervalo, enfatizando enfim o aspecto misto e transitório desse território.
pitoresco? [o jardim do açude, submetido à floresta, a seu poder de polinização, de mutação, é um campo pitoresco, em elipse.]

...como a oitava pode ser substituída por "escalas não oitavantes" se reproduzindo a partir de um princípio em espiral; como a textura pode ser trabalhada de maneira a perder seus valores fixos e homogêneos para devir um suporte de deslizamentos no tempo, de deslocamentos nos intervalos, de transformações som/arte comparáveis àquelas op/arte...

essas palavras de deleuze e guattari parecem adequadas para propor, da capo, a retomada da experiência com a obra: mudar junto com as gramas, os traços, as tramas e cerzidos, ao vivo.

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