segunda-feira, 26 de agosto de 2013

novos convidados

oi denise e paulo,
sejam bem vindos ao blog - diário de bordo do projeto.
ele ainda está fechado, por enquanto ainda fica entre a gente, mas penso em editar um pouco a abri-lo junto com a exposição.
abraços,
t.

domingo, 18 de agosto de 2013

+ uma versão


manta-intervalo

a máquina de fugas criada por tatiana grinberg no jardim de um casarão neocolonial nas bordas da floresta da tijuca faz deslizar temporalidades. movimenta rastros de corpos e outras intensidades, ativando enervações dentro/fora. a operação desloca progressivamente as coordenadas, retraçando pensamentos e percursos. leva a pensar as coisas em termos de tramas e não-tramas, por dentro e por fora da carne que recobre o mundo. [atravesso a manta, respiro, sinto seu calor, a grama espeta minha pele. linhas repuxam meu corpo para a terra. vol d’oiseau. a grama, o cobertor de feltro, a floresta da tijuca, as ondas da estrada das canoas, da casa de niemeyer. o mar. já sinto certa tonteira, perturbações de labirinto, e que ressoam aqui bem alto, na curva do abdômem. percorro trajetos imaginários através da mata, seguindo outras linhas, planos, mapas. ao mesmo tempo, é como se fosse preciso focar tudo mais de perto, refinar o sismógrafo, pois há micropercepções envolvidas –  em torno de gestos mínimos, e de outros, mais amplos. abrir-se ao sítio e às lateralidades: o sabor exato das framboesas silvestres, a água fria da fonte, o patchwork de azulejos e limos no meio da mata, a coleção de quinquilharias. o tear inventado no barracão.
no jardim do museu, um gramado será suspenso, içado em direção à floresta. surpresas serão geradas aí – no campo da percepção, e dos usos, dos costumes....    durante longo tempo apenas sabia dizer que, desde maio, havia grama brotando pelos poros de uma manta de feltro [manta daquelas que recobrem tantos corpos nas madrugadas geladas]. às vezes, entretanto, tudo vem junto: a grama, a manta, os cortes na terra nua, as fendas, refendas, lâminas, anéis, estacas, o tear, os fios, a trama de metal redesenhando o verde, estendendo o território do museu. e mais os desenhos que fogem para a mata
                                                                                      
 traços se confundem com trajetos/projetos/processos. probjetos? explorando a membrana de contato com o mundo, aí nesse mergulho nas profundezas da imanência, a obra irá testar um território gerado pelo deslocamento gramado-manta, atravessando com novas linhas e afetos a vivência de um jardim, movendo espaços, prometendo enfim transformar a configuração de cada um dos encontros. [lembro de matta clark, que gostava de pensar o quanto o desenho das coisas à nossa volta, a cidade, a arquitetura enfim, transforma-se com nossos gestos, como ao usar um lugar qualquer na rua para amarrar os cordões do sapato: uma interrupção nos seus próprios movimentos cotidianos, que torna ridícula e absurda a ideia de função…. [imagino como uma tarefa de puro deleite investigar o uso, os possíveis usos dessa coberta que, ao propor um outro avesso, transforma o solo, perturbando todo o esforço de regularidade do platô ajardinado – tentativa de ordenação de um pátio que para sempre estará em mutação, em tensão dinâmica com a potência de mestiçagem da mata atlântica....     [passar pelo platô, pelas árvores mestras da operação, descobrir a trama, o jogo de forças que atravessa corpos/espaços. paralelas/infinito                                                                                                           
seguir o caminho de terra, desbarrancado com as chuvas do outono e, depois, sentar no sofá de azulejos diante da fonte..... pausa em uma trilha que repete toda a tendência diagonal do sítio…. até a nascente. dali, daquela sombra fresca, admirar os desenhos em fuga pela floresta

a intervenção no museu do açude 'escolhe' o momento transitório desse jardim, entrelaçando estratos de memória e reinventando, com essa fuga em diagonal, as fronteiras com a floresta. novas tramas, linhas, arranjos surgem aí, tornando mais complexa a conversa nesse intervalo, enfatizando enfim o aspecto misto desse território. pitoresco? o jardim do açude, suscetível à floresta, a seu poder de polinização, de mutação, é um campo pitoresco, em elipse. [em um passeio pelo sítio, encontramos uma curiosa manifestação dessa aceleração mestiça: um cercado de bromélias invadido por flores coloridas, atravessado por avencas e samambaias da mata.
...como a oitava pode ser substituída por "escalas não oitavantes" se reproduzindo a partir de um princípio em espiral; como a textura pode ser trabalhada de maneira a perder seus valores fixos e homogêneos para devir um suporte de deslizamentos no tempo, de deslocamentos nos intervalos, de transformações som/arte comparáveis àquelas op/arte...
essas palavras de deleuze e guattari parecem adequadas para propor, da capo, a retomada da experiência com a obra de tatiana grinberg: mudar junto com as gramas, o solo, os traços, as tramas e cerzidos, ao vivo.



sábado, 17 de agosto de 2013

mais mudanças no texto-manta


manta-intervalo

a máquina de fugas criada por tatiana grinberg no jardim de um casarão neocolonial nas bordas da floresta da tijuca faz deslizar temporalidades. movimenta rastros de corpos e outras intensidades, ativando enervações dentro/fora. a operação desloca progressivamente as coordenadas, retraçando pensamentos e percursos. leva a pensar as coisas em termos de tramas e não-tramas, por dentro e por fora da carne que recobre o mundo. [atravesso a manta, respiro, sinto seu calor, a grama espeta minha pele. linhas repuxam meu corpo para a terra. vol d’oiseau. a grama, o cobertor de feltro, a floresta da tijuca, as ondas da estrada das canoas, da casa de niemeyer. o mar. já sinto certa tonteira, perturbações de labirinto, e que ressoam aqui bem alto, na curva do abdômem. percorro trajetos imaginários através da mata, seguindo outras linhas, planos, mapas. ao mesmo tempo, é como se fosse preciso focar tudo mais de perto, refinar o sismógrafo, pois há micropercepções envolvidas –  em torno de gestos mínimos, e de outros, mais amplos. abrir-se ao sítio e às lateralidades: o sabor exato das framboesas silvestres, a água fria da fonte, o patchwork de azulejos e limos no meio da mata, a coleção de quinquilharias. o tear inventado no barracão. 
no jardim do museu, um gramado será suspenso, içado em direção à floresta. surpresas serão geradas aí – no campo da percepção, e dos usos, dos costumes....    durante longo tempo apenas sabia dizer que, desde maio, havia grama brotando pelos poros de uma manta de feltro [manta daquelas que recobrem tantos corpos nas madrugadas geladas]. às vezes, entretanto, tudo vem junto: a grama, a manta, os cortes na terra nua, as fendas, refendas, lâminas, anéis, estacas, o tear, os fios, a trama de metal redesenhando o verde, estendendo o território do museu. e mais os desenhos que fogem para a mata
                                                                                      
 traços se confundem com trajetos/projetos/processos. probjetos? explorando a membrana de contato com o mundo, aí nesse mergulho nas profundezas da imanência, a obra irá testar um território gerado pelo deslocamento gramado-manta, atravessando com novas linhas e afetos a vivência de um jardim, movendo espaços, prometendo enfim transformar a configuração de cada um dos encontros. [lembro de matta clark, que gostava de pensar o quanto o desenho das coisas à nossa volta, a cidade, a arquitetura enfim, transforma-se com nossos gestos, como ao usar um lugar qualquer na rua para amarrar os cordões do sapato: uma simples interrupção no movimento do dia a dia, que torna absurda a dimensão funcional…. [imagino como uma tarefa de puro deleite investigar o uso, os possíveis usos dessa coberta que, ao propor um outro avesso, transforma o solo, perturbando todo o esforço de regularidade do platô ajardinado – tentativa de ordenação de um pátio que para sempre estará em mutação, em tensão dinâmica com a potência de mestiçagem da mata atlântica....     [passar pelo platô, pelas árvores mestras da operação, descobrir a trama, o jogo de forças que atravessa corpos/espaços. paralelas/infinito     
                                                                                                      
seguir o caminho de terra, desbarrancado com as chuvas do outono e, depois, sentar no sofá de azulejos diante da fonte..... pausa em uma trilha que repete toda a tendência diagonal do sítio…. até a nascente. dali, daquela sombra fresca, admirar os desenhos em fuga pela floresta


a intervenção no museu do açude 'escolhe' o momento transitório desse jardim, entrelaçando estratos de memória e reinventando, com essa fuga em diagonal, as fronteiras com a floresta. novas tramas, linhas, arranjos surgem aí, tornando mais complexa a conversa nesse intervalo, enfatizando enfim o aspecto misto desse território. pitoresco? o jardim do açude, suscetível à floresta, a seu poder de polinização, de mutação, é um campo pitoresco, em elipse. [em um passeio pelo sítio, encontramos uma curiosa manifestação dessa aceleração mestiça: um cercado de bromélias invadido por flores coloridas, atravessado por avencas e samambaias da mata.
...como a oitava pode ser substituída por "escalas não oitavantes" se reproduzindo a partir de um princípio em espiral; como a textura pode ser trabalhada de maneira a perder seus valores fixos e homogêneos para devir um suporte de deslizamentos no tempo, de deslocamentos nos intervalos, de transformações som/arte comparáveis àquelas op/arte...
essas palavras de deleuze e guattari parecem adequadas para propor, da capo, a retomada da experiência com a obra de tatiana grinberg: mudar junto com as gramas, o solo, os traços, as tramas e cerzidos, ao vivo.

2013_08_17 pássaro + rede






ainda no jogo c as palavras


manta-intervalo



a máquina de fugas criada por tatiana grinberg no jardim de um casarão neocolonial nas bordas da floresta da tijuca faz deslizar temporalidades. movimenta rastros de corpos e outras intensidades, ativando enervações dentro/fora. a operação desloca progressivamente as coordenadas, retraçando pensamentos e percursos. leva a pensar as coisas em termos de tramas e não-tramas, por dentro e por fora da carne que recobre o mundo. [atravesso a manta, respiro, sinto seu calor, a grama espeta minha pele. linhas repuxam meu corpo para a terra. vol d’oiseau. a grama, o cobertor de feltro, a floresta da tijuca, as ondas da estrada das canoas, da casa de niemeyer. o mar. já sinto certa tonteira, perturbações de labirinto, e que ressoam aqui bem alto, na curva do abdômem. percorro trajetos imaginários através da mata, seguindo outras linhas, planos, mapas. ao mesmo tempo, é como se fosse preciso focar tudo mais de perto, refinar o sismógrafo, pois há micropercepções envolvidas –  em torno de gestos mínimos, e de outros, mais amplos. abrir-se ao sítio e às lateralidades: o sabor exato das framboesas silvestres, a água fria da fonte, o patchwork de azulejos e limos no meio da mata, a coleção de quinquilharias. o tear inventado no barracão.
no jardim do museu, um gramado será suspenso, içado em direção à floresta. surpresas serão geradas aí – no campo da percepção, e dos usos, dos costumes....    durante longo tempo apenas sabia dizer que, desde maio, havia grama brotando pelos poros de uma manta de feltro [manta daquelas que recobrem tantos corpos nas madrugadas geladas]. às vezes, entretanto, tudo vem junto: a grama, a manta, os cortes na terra nua, as fendas, refendas, lâminas, anéis, estacas, o tear, os fios, a trama de metal redesenhando o verde, extendendo o território do museu. e mais os desenhos que fogem para a mata 
                                                                                      
 traços se confundem com trajetos/projetos/processos. probjetos? explorando a membrana de contato com o mundo, aí nesse mergulho nas profundezas da imanência, a obra irá testar um território gerado pelo deslocamento gramado-manta, atravessando com novas linhas e afetos a vivência de um jardim, movendo espaços, prometendo enfim transformar a configuração de cada um dos encontros. [lembro de matta clark, que gostava de pensar o quanto o desenho das coisas à nossa volta, a cidade, a arquitetura enfim, transforma-se com nossos gestos, como ao usar um lugar qualquer na rua para amarrar os cordões do sapato: uma simples interrupção no movimento do dia a dia, que torna absurda a dimensão funcional…. imagino como uma tarefa de puro deleite investigar o uso, os possíveis usos dessa coberta que, ao propor um outro avesso, transforma o solo, perturbando todo o esforço de regularidade do platô ajardinado – tentativa de ordenação de um pátio que para sempre estará em mutação, em tensão dinâmica com a potência de mestiçagem da mata atlântica....     [passar pelo platô, pelas árvores mestras da operação, descobrir a trama, o jogo de forças que atravessa corpos/espaços. paralelas/infinito                     seguir o caminho de terra, desbarrancado com as chuvas do outono e, depois, sentar no sofá de azulejos diante da fonte..... pausa em uma trilha que repete toda a tendência diagonal do sítio…. até a nascente. dali, daquela sombra fresca, admirar os desenhos em fuga pela floresta
a intervenção no museu do açude 'escolhe' o momento transitório desse jardim, entrelaçando estratos de memória e reinventando, com essa fuga em diagonal, suas fronteiras com a floresta. novas tramas, linhas, arranjos surgem aí, tornando mais complexa a conversa nesse intervalo, enfatizando enfim o aspecto misto desse território. pitoresco? [o jardim do açude, suscetível à floresta, a seu poder de polinização, de mutação, é um campo pitoresco, em elipse. em um passeio pelo sítio, encontramos uma curiosa manifestação dessa aceleração mestiça: um cercado de bromélias invadido por flores coloridas, atravessado por avencas e samambaias da mata.
...como a oitava pode ser substituída por "escalas não oitavantes" se reproduzindo a partir de um princípio em espiral; como a textura pode ser trabalhada de maneira a perder seus valores fixos e homogêneos para devir um suporte de deslizamentos no tempo, de deslocamentos nos intervalos, de transformações som/arte comparáveis àquelas op/arte...
essas palavras de deleuze e guattari parecem adequadas para propor, da capo, a retomada da experiência com a obra de tatiana grinberg: mudar junto com as gramas, o solo, os traços, as tramas e cerzidos, ao vivo.


cecilia cotrim, julho/agosto de 2013.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013



a trama da escrita/reescrita, essa foi a última versão do dia, estou tendo dificuldades com as pausas, os espaços



manta-intervalo



entre o jardim e a floresta, a grama, o limo, o azulejo. fora, e dentro. entre o agora, e outras linhas

a máquina de fugas criada por tatiana grinberg no jardim de um casarão nas bordas da floresta da tijuca faz deslizar temporalidades. movimenta rastros de corpos e de outras intensidades, ativando enervações dentro/fora. a operação desloca progressivamente as coordenadas, retraçando pensamentos e percursos. leva a pensar as coisas em termos de tramas e não-tramas, por dentro e por fora da carne que recobre o mundo. [atravesso a manta, respiro, sinto seu calor, a grama espeta minha pele. linhas repuxam meu corpo para o solo. vol d’oiseau. a grama, o cobertor de feltro, a floresta da tijuca, as ondas da estrada das canoas, da casa de niemeyer. o mar. já sinto certa tonteira, perturbações de labirinto, e que ressoam aqui bem alto, na curva do abdômem. percorro trajetos imaginários através da mata, seguindo outras linhas, planos, mapas. ao mesmo tempo, é como se fosse preciso focar tudo mais de perto, refinar o sismógrafo, pois há micropercepções envolvidas, em torno de gestos mínimos, e de outros, mais amplos. o sabor exato das framboesas silvestres, a água fria da fonte, o patchwork de azulejos e limos no meio da mata, a coleção de quinquilharias. o tear inventado no barracão – extensão do território do museu].

mas no jardim, um gramado será suspenso, içado em direção à floresta. surpresas serão geradas aí – no campo da percepção, e também no campo dos usos, dos costumes....  e apenas sei dizer que há, desde maio, grama brotando pelos poros de uma manta de feltro [manta daquelas que recobrem tantos corpos nas madrugadas geladas]. às vezes, entretanto, tudo vem junto: a manta, os cortes na terra nua, as fendas, refendas, lâminas, anéis, estacas, os fios, a trama de metal redesenhando o verde. e mais os desenhos que fogem para a mata                                                                                              traços se confundem com trajetos/projetos/processos. probjetos? explorando a membrana de contato com o mundo, aí nesse mergulho nas profundezas da imanência, a obra irá testar um território gerado pela expansão do gramado-manta, atravessando com novas linhas e afetos a vivência de um jardim, movendo espaços, prometendo enfim transformar a configuração de cada um dos encontros. [lembro de matta clark, que gostava de pensar o quanto o desenho das coisas à nossa volta, a cidade, a arquitetura enfim, transforma-se com nossos gestos, como ao usar um hidrante para apoiar o pé enquanto amarramos os cordões do sapato, no meio da rua....    e imagino como uma tarefa de puro deleite investigar o uso, os possíveis usos dessa coberta que, ao propor um outro avesso, transforma o solo, perturbando todo o esforço de regularidade do platô ajardinado – tentativa de ordenação de um lugar que para sempre estará em mutação, em tensão dinâmica com a potência de mestiçagem da mata atlântica....     passar pelo platô, pelas árvores mestras da operação, descobrir a trama, o jogo de forças que atravessa corpos/espaços. paralelas/infinito                     depois, sentar no sofá de azulejos diante da fonte..... pausa numa trilha que repete toda a tendência diagonal do sítio…. até a nascente. dali, daquela sombra fresca, admirar os desenhos em fuga pela floresta

a intervenção no museu do açude 'escolhe' o momento transitório desse jardim, entrelaçando estratos de memória e reinventando, com essa fuga em diagonal, suas fronteiras com a floresta. novas tramas, linhas, arranjos surgem aí, tornando mais complexa a conversa nesse intervalo, enfatizando enfim o aspecto misto desse território. pitoresco? [o jardim do açude, suscetível à floresta, a seu poder de polinização, de mutação, é um campo pitoresco, em elipse. encontramos um belo exemplo dessa mestiçagem em um cercado de bromélias, totalmente invadido por flores e samambaias da mata.

...como a oitava pode ser substituída por "escalas não oitavantes" se reproduzindo a partir de um princípio em espiral; como a textura pode ser trabalhada de maneira a perder seus valores fixos e homogêneos para devir um suporte de deslizamentos no tempo, de deslocamentos nos intervalos, de transformações som/arte comparáveis àquelas op/arte...

essas palavras de deleuze e guattari parecem adequadas para propor, da capo, a retomada da experiência com a obra: mudar junto com as gramas, os traços, as tramas e cerzidos, ao vivo.

2013_08_14 começando a pensar o folder

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

2013_08_12 rede [hora de chamar assistente: marisa]





depois da visita/algumas mudanças no texto

 
manta-intervalo



entre o jardim e a floresta, a grama, o limo, o azulejo. fora, e dentro. entre o agora, e outras linhas

a máquina de fugas criada por tatiana grinberg no jardim de um casarão nas bordas da floresta da tijuca faz deslizar temporalidades. movimenta rastros de corpos e de outras intensidades, ativando enervações dentro/fora. a operação desloca progressivamente as coordenadas, retraçando pensamentos e percursos. leva a pensar as coisas em termos de tramas e não-tramas, por dentro e por fora da carne que recobre o mundo. [atravesso a manta, respiro, sinto seu calor, a grama espeta minha pele. linhas repuxam meu corpo para o solo, mas posso voar pela floresta. vol d’oiseau. a grama, o cobertor de feltro, a floresta da tijuca, as ondas da estrada das canoas, da casa de niemeyer. o mar. já sinto certa tonteira, perturbações de labirinto, e que ressoam aqui bem alto, na curva do abdômem. percorro trajetos imaginários através da mata, seguindo outras linhas, planos, mapas. ao mesmo tempo, é como se fosse preciso focar tudo mais de perto, refinar o sismógrafo, pois há micropercepções envolvidas, em torno de gestos mínimos, e de outros, mais amplos. o sabor exato das framboesas silvestres, a água fria da fonte, o patchwork de azulejos no meio da mata, a coleção de quinquilharias].

mas um gramado será suspenso, içado em direção à floresta. surpresas serão geradas aí – no campo da percepção, e também no campo dos usos, dos costumes....  e apenas sei dizer que há, desde maio, grama brotando através dos poros de uma manta de feltro [manta daquelas que recobrem tantos corpos nas madrugadas geladas]. às vezes, entretanto, tudo vem junto: os cortes na terra nua, as fendas, refendas, lâminas, anéis, estacas, os fios, a trama de metal redesenhando o verde. e mais os desenhos que fogem para a mata, cujo devir concreto, será, de certo modo, até durável….   traços se confundem com trajetos/projetos/processos. probjetos? explorando a membrana de contato com o mundo, aí nesse mergulho nas profundezas da imanência, a obra irá testar um território gerado pela expansão do gramado-manta, atravessando com novas linhas e afetos a vivência de um jardim, movendo espaços, prometendo enfim transformar a configuração de cada um dos encontros. lembro de matta clark, que gostava de pensar que o desenho das coisas à nossa volta, a cidade, a arquitetura enfim, transforma-se com nossos gestos, como quando usamos um hidrante para apoiar o pé enquanto amarramos os cordões do sapato, no meio da rua....


imagino como uma tarefa de puro deleite investigar o uso, os possíveis usos dessa coberta que, ao propor um outro avesso, transforma o solo, perturbando todo o esforço de regularidade do platô ajardinado – tentativa de ordenação de um lugar que para sempre estará em mutação, em tensão dinâmica com a potência de mestiçagem da mata atlântica....  [passar pelo platô, pelas árvores mestras da operação, descobrir a trama, estar aberta ao jogo de forças que irá atravessar o corpo/espaço. paralelas/infinito
depois, sentar no sofá de azulejos diante da fonte..... pausa numa trilha que repete toda a tendência diagonal do sítio…. até a nascente. dali, daquela sombra fresca, admirar os desenhos em fuga pela floresta

a intervenção no museu do açude 'escolhe' o momento transitório desse jardim, entrelaçando estratos de memória e reinventando, com essa fuga em diagonal, suas fronteiras com a floresta. novas tramas, linhas, arranjos surgem aí, tornando mais complexa a conversa nesse intervalo, enfatizando enfim o aspecto misto e transitório desse território.
pitoresco? [o jardim do açude, suscetível à floresta, a seu poder de polinização, de mutação, é um campo pitoresco, em elipse.]

...como a oitava pode ser substituída por "escalas não oitavantes" se reproduzindo a partir de um princípio em espiral; como a textura pode ser trabalhada de maneira a perder seus valores fixos e homogêneos para devir um suporte de deslizamentos no tempo, de deslocamentos nos intervalos, de transformações som/arte comparáveis àquelas op/arte...

essas palavras de deleuze e guattari parecem adequadas para propor, da capo, a retomada da experiência com a obra: mudar junto com as gramas, os traços, as tramas e cerzidos, ao vivo.